A Conquista Árabe da Ásia Central | PT-PT

 


A conquista da Ásia Central pelos Árabes baseou-se numa conquista militar seguida por conversões religiosas forçadas. De uma perspetiva central asiática, a questão mais interessante no que diz respeito a esta história islâmica no século VIII prende-se com a forma como a conquista das terras da Ásia Central pelo povo árabe, especialmente o Turquistão e áreas adjacentes, subitamente originou um número significativo de nativos da Ásia Central a ocuparem posições de grande poder no palco principal do império islâmico. Um estudo recente sobre o declínio e a queda do império Sassânida [40] argumenta que o objetivo da conquista árabe da planície Iraniana era o controlo da Ásia central, onde as paragens chave do comércio na rota da seda se encontravam localizadas. Relativamente poucos árabes estabeleceram-se a si mesmos na planície iraniana. Tendo em conta a informação disponível sobre o comércio da Rota da Seda na região oriental do mediterrâneo, é bastante provável o caso de que a Ásia central providenciou-se uma presa mais interessante do que a planície Iraniana. [41] O acesso aos detalhes referentes a esta conquista deve-se em grande aspecto à tradução inglesa dos extensivos registos do historiador al-Tabari [42]. Por exemplo, segundo Tabari, durante a punitiva expedição contra os Songdian [43] que se encontravam a ajudar a resistência turca, o comandante árabe sa’id khudhaynah proibiu os seus soldados de perseguir os Songdian em fuga. Por outras palavras, os Songdian e as suas cidades não deveriam ser destruídos, mas sim serem colocados a bom uso para o califado. Depois dos Songdian terem sido conquistados pelos árabes, estes demonstraram-se prontos a abandonar a sua religião anterior e a adotar o islão, considerando que durante este período Ashras (727-729) lançou uma campanha missionaria em Songdiana, durante a qual prometeu liberdade de impostos para convertidos que tenham passado pela circuncisão e que lessem o Sura, uma secção do Qurão.

 Os Songdian afirmaram que se tinham todos convertido e começaram a construir mesquitas. No entanto, de forma a aumentar as receitas do estado, Ashras reverteu a sua política e tentou cobrar impostos a toda a população. Revoluções instalaram-se nas cidades e as tropas turcas foram chamadas como forma de apoio.[44] A grande rede de comércio dos Songdian e as suas éticas comerciais foram úteis de tempo a tempo. Os chefes turcos, que tinham há muito estado na região e que frequentemente empregavam comerciantes de Songdiana para vender a seda que os turcos tinham trazido da China, foram convocados para auxílio na luta contra os árabes. Contudo, em muitas partes da Ásia Central os turcos não foram capazes de suster o seu poder numa altura em que o exército árabe encontrava-se no pico do seu poder militar. 

Foi em 751, pouco depois da retirada do poder de Ummayad que o Antigo coração [45] e a Ásia Central que o primeiro e único encontro militar entre o império islâmico e o império de Tang tomou lugar perto de Talas na fronteira entre o Quirguistão do dia atual e o Cazaquistão. A causa dos eventos foi o tratamento injusto do governador de Tashkent [46] pelo general Gao Xianzhi [47] dos Tang. Depois de Gao ter alcançado um acordo com o governante de Tashkent, traio-o e matou-o. Os estados da Ásia Central aliaram-se então com as forças árabes regionais de forma a atacar as forças Tang. De uma forma mais extensa, esta batalha teve pouca ou nenhuma significância militar ou impacto político na relação entre o império Tang e o novo califado de Abbasid [48]. O que realmente demonstrou foi um grande impacto cultural. Muitos dos vinte mil chineses e asiáticos da Ásia Central que foram colocados prisioneiros no novo califado, assim como os seus aliados, foram levados para oeste e obrigados a fazer parte da construção das estruturas do novo califado, tornando-se uma parte essencial de contribuição para o novo centro islâmico [49].

40 Último império persa pré-islâmico, governado pela dinastia Sassânida (224-651 d.c). O Império Sassânida, que sucedeu ao Império Parta, foi reconhecido como uma das principais potencias da Ásia Ocidental e Central, juntamente com o Império Romano/Bizantino, por um período de mais de 400 anos. Fonte: SHAPUR, Shahbazi, A. “Sasanian dynasty. Encyclopedia Iranica.”, Columbia University Press, 2005. 

41 XINRU, Liu, “A Silk Road Legacy: The Spread of Buddhism and Islam”, Journal of World History, vol.22, No.1, pp.55-81, 2011. 

42 Letrado e historiador influente iraniano melhor conhecido por ser um especialista na exegese do Qurão e da jurisprudência islâmica. Fonte: JONES, Lindsay “Encyclopedia of religion, volume 13” Macmillan Reference USA, 2005. 

43 Os Songdian eram habitantes de vales férteis rodeados por desertos, sendo o mais importante o vale de Zeravshan, que se localiza hoje no Uzbekistan e Jikistan. Estas pessoas falantes de uma língua iraniana possuíam uma identidade histórica de quinze séculos até esta se esvair no mundo muçulmano, cuja língua persa era a dominante. Embora os Songdian tenham construído cidades importantes como Samarkand e Bukhara, a sua existência ainda é bastante desconhecida em termos históricos sendo que apenas especialistas da rota da Seda conhecem o papel destes nas rotas de troca deste período. Fonte: VAISSIÈRE, Étienne de la, “Songdiand in China: A Short History and Some New discoveries”, The Silk Road Foundation Newsletter. 

44 XINRU, Liu, “A Silk Road Legacy: The Spread of Buddhism and Islam”, Journal of World History, vol.22, No.1, pp.55-81, 2011. 

45 Também por vezes intitulado de Grande Coração, ou Khorasan, em muitas línguas europeias é uma região histórica da Pérsia que englobava zonas dos atuais Irão, Afeganistão, Tadjiquistão, Trucomenistão e Uzbequistão. Fonte: BRITANNICA, Encyclopedia The Editors, “Khorasan” em Encyclopedia Britannica, inc, 2016. 

46 Principal cidade da Ásia central, assim como, a capital e maior cidade do Uzbequistão. 

47 Gao Xianzhi ou Go Seonji foi um general da dinastia Tang, de descendência Coreana, conhecido como um grande comandante durante a sua vida. Os seus feitos são variados sendo que se destaca a sua participação nas múltiplas expedições militares de conquista das regiões ocidentais e o comando das forças Tang durante a Batalha de Talas. Fonte: YANG, Bo, “Outlines of the History of the Chinese” vol. 2, p. 547,2002. 

48 Terceiro califado que sucedeu o profeta Islâmico Moamé, fundado por uma dinastia descendente do tio de Moamé, Abbas ibn Abdul-Muttalib (566-653 d.c), estes governaram como califas durante a maioria do califado desde a sua capital em Bagdá no que corresponde ao Iraque dos dias de hoje, tendo usurpado o califado de Umayyad na revolução de Abbasid em 750 d.c

 49 XINRU, Liu, “A Silk Road Legacy: The Spread of Buddhism and Islam”, Journal of World History, vol.22, No.1, pp.55-81, 2011

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